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Pierre Bourdieu

  Morre Pierre Bourdieu, um dos maiores intelectuais da sociologia contemporânea.




GloboNews.com e agências internacionais, 24/01/2002, 11h38m.

 


 

Pierre Bourdieu, sociólogo francês, morre aos 71 anos
PARIS - O sociólogo e defensor do movimento antiglobalização Pierre Bourdieu morreu aos 71 anos na França. O jornal "Le Monde" disse em sua edição desta quinta-feira que Bourdieu morreu de câncer no hospital Saint-Antoine, em Paris, na quarta. O primeiro-ministro francês, Lionel Jospin, afirmou em uma mensagem de condolências que Bourdieu era um "mestre da sociologia contemporânea e uma grande figura na vida intelectual de nosso país".  

Catedrático de sociologia do Colégio de França, Pierre Bourdieu era considerado como um dos intelectuais mais influentes de sua época. Tornou-se conhecido já em 1964, ao publicar junto com Jean-Claude Passeron "Les Héritiers" ("Os Herdeiros"), obra que, quatro anos antes de maio de 68, fazia uma crítica fundamental ao ensino superior francês.

Teve depois um verdadeiro êxito de público com "La Misère du monde" (A Miséria do mundo", 1993), uma pesquisa sobre o sofrimento social. Em 1996, fundou a associação Liber/Raisons d'Agir (Liber/Razões de Agir), editora de livros militantes de denúncia do neoliberalismo.

Entre suas obras, se destacam "La Distinction" ("A Distinção", 1979), "Ce que parler veut dire" ("O que falar significa", 1982), "La Noblesse d'Eteat" ("A nobreza de Estado", 1989, "Les règles de l'Art" ("As regras da Arte", 1992, Comapanhia das Letras), "A economia das trocas simbólicas" (Ed. Perspectiva), "Sur la télevision" ("Sobre a televisão", 1997) e "La Domination masculine" ("A Dominação masculina", 1998).

Crítico contundente da sociedade capitalista, Bourdieu começou sua carreira acadêmica na Universidade Algiers, em 1958, quando rebeldes argelinos lutavam pela independência do império colonial francês. Bourdieu é visto por muitos como alguém que deu novos rumos ao estudo da sociologia desde os anos 60.

Seus trabalhos abrangeram um vasto campo de conhecimento nas  áreas da cultura, política, educaçãao, mídia e literatura. Além disso, manteve-se ligado à atividade política e ao apoio às classes trabalhadoras, o que o tornou um intelectual de referência para a esquerda.


Pierre Bourdieu: 'Não se faz revolução com Internet'.

Agradecimentos: Consulado Geral da França e Marie Depalle.

Pierre Bourdieu, sociólogo, é um dos intelectuais franceses de maior projeção internacional. Ultimamente ele tem buscado consertar os vasos quebrados pelos economistas e pelos novos ventos da globalização e fornecer os óculos da sociologia para aqueles que desejam ver o que a mídia não revela.

Em 1995, participou intensamente das greves que paralisaram a França em nome da preservação das conquistas sociais ameaçadas pelo neoliberalismo. Desferiu críticas contundentes aos profissionais da mídia em seu best-seller "Sobre a televisão'' (Ed. Jorge Zahar).

Reeditava assim a tradição do intelectual público, na melhor linhagem de Emile Zola diante do Caso Dreyfus, no final do século passado, para mostrar que os franceses muitas vezes preferem a desordem à injustiça.

Toda a obra de Bourdieu busca responder à seguinte questão: Como funciona a dominação dos dominadores sobre os dominados? Por que ela se reproduz e é vista muitas vezes como legítima e natural pelos dominados?,Para chegar a uma resposta, Bourdieu ao longo de 40 anos vêm observando populações de todos os tipos, desde os camponeses argelinos até patrões, jornalistas e operários. Busca desmontar os mecanismos da dominação.

Suas impressões e teorias são caixas de ferramenta para novos movimentos sociais que ganham corpo na Europa diante das conseqüências negativas da globalização. ,Professor titular da cadeira de sociologia do College de France e diretor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, Bourdieu concedeu uma entrevista exclusiva à Globo.com em seu escritório em Paris. Clique abaixo para ler.


Pierre Bourdieu deixa um grande legado ao estudiosos da teoria da arte e da cultura.

Bianca Kleinpaul, 24/01/2002, 16h13m, GloboNews.com.

Pierre Bourdieu
Mais que um defensor do movimento antiglobalização, Pierre Bourdieu era uma crítico polêmico e influenciador da teoria da arte. O sociólogo francês, que faleceu aos 71 anos nesta quarta-feira em Paris, de problemas decorrentes de câncer (segundo foi divulgado na imprensa francesa) era catedrático de sociologia do Colégio de França e considerado um dos intelectuais mais influentes do século. Tornou-se conhecido já em 1964, ao publicar junto com Jean-Claude Passeron 'Les Héritiers' ('Os herdeiros'), obra que, quatro anos antes de maio de 68, fazia uma crítica fundamental ao ensino superior francês. Bourdieu cultivava a polêmica como instrumento de intervenção social e, nos últimos tempos, atingia os contentes do tempo de consenso e tentava recuperar o sentido do intelectual combativo.
- O maior legado que ele deixa é a crítica da arte como religião de homens niilistas, do burguês. Bourdieu era contra a arte na mão de grupos economicamente favorecidos que faziam dela um arremedo de espírito para si próprios e assim, se tornavam especiais - conta o filósofo e professor da Escola de Comunicação da UFRJ, Henrique Antoun. - Bourdieu era um crítico ácido e causava reações, sobretudo nas esferas da teoria onde ele atuava.

O pensador francês por muitas vezes foi criticado por seu autoritarismo ou narcisismo mas, por outro lado, desqualificar sua atuação equivale a não reconhecer sua independência no cenário intelectual francês contemporâneo. Dos poucos cientistas sociais franceses a sobreviver à onda estruturalista e pós-estruturalista, ele manteve o sentimento do mundo ao longo de toda a sua obra atual, que busca decifrar os significados das relações sociais de exploração e dominação - desde seu primeiro texto sobre a sociedade argelina, ainda colonizada pela França, e de sua primeira obra de influência no pensamento social ('Os herdeiros', sobre os estudantes, em colaboração com Jean-Claude Passeron) até o 'Sobre a televisão' (1993, Ed. Zahar).

Capa de 'Sobre a televisão'
Não é necessário nenhum conhecimento sociológico ou familiaridade com a linguagem acadêmica para encontrar em seus livros material fértil sobre a humanidade. Em 'A miséria do mundo', Bourdieu se compôs de depoimentos, cheios de humanidade e sofrimento, de homens e mulheres a propósito de sua existência e de sua dificuldade de viver. São 'pequenas novelas', como escreveu Bourdieu, e podem ser lidas ao acaso, sem preocupação com os pressupostos metodológicos que orientaram as entrevistas. Mendigos, zeladores de prédios, operários, comerciantes, donas de casa e estudantes contam suas misérias cotidianas.
- Como pensador e escritor ele influenciou muito nas áreas de pensamento sociológico ligado à teoria da arte e da cultura, principalmente nos anos 80, quando ele foi bastante discutido - completa Antoun.

Foi essa década, seu período mais fértil quando se destacaram as obras 'La Distinction' ('A Distinção', 1979), 'Ce que parler veut dire' ('O que falar significa', 1982) e a 'La Noblesse d'Etat' ('A nobreza de Estado', 1989).

No Brasil, foram poucas obras traduzidas, com destaque para 'A regra da arte' (Companhia das Lestras, 1992), 'A economia das trocas simbólicas' (Editora Perspectiva), 'Sobre a televisão', (Editora Zahar, 1997), 'Contrafogos (1998)' e 'Contrafogos 2' (2001), ambas também da Editora Zahar. A editora Relume-Dumará lançará o último livro publicado na França, 'Sociologia reflexiva', ainda este ano.

Foi em 'A economia das trocas simbólicas' e em 'Sobre a televisão' que Bourdieu chamou a atenção dos estudiosos da teoria da cultura no Brasil. Neste último livro, o sociólogo  reconhece a importância dos interesses econômicos particulares das grandes empresas que possuem os canais e as redes de TV, mas adverte para a necessidade de serem considerados os limites de um 'materialismo curto, associado à tradição marxista', que procura reduzir todos os complexos problemas do autoritarismo existente no funcionamento da mídia ao comando dos capitalistas proprietários.

O sociólogo francês dá exemplos extraídos da televisão francesa e esclarece que não tem nada contra a livre concorrência, porém faz a ressalva no livro: 'nas atuais condições, a concorrência entre as grandes empresas jornalísticas está condicionada pela busca dos mesmos grandes anunciantes, pela adoção dos mesmos critérios pautados pelas pesquisas de opinião, de modo que os produtos que elas oferecem estão tendendo a ficar muito parecidos uns com os outros'.

vMas seus trabalhos abrangeram um vasto campo de conhecimento nas áreas da política, educação, mídia e literatura. Além disso, manteve-se ligado à atividade política e ao apoio às classes trabalhadoras, o que o tornou um intelectual de referência para a esquerda.


Trecho do posfácio do livro 'Sobre a televisão', de Pierre Bourdieu.

Pierre Bourdieu, extraído de "Sobre a televisão", Jorge Zahar Editor, 1997, p.133 

"Em um universo dominado pelo temor de ser entediante e pela preocupação de divertir a qualquer preço, a política está condenada a aparecer como um assunto ingrato, que se exclui tanto quanto possível dos horários de grande audiência, um espetáculo pouco excitante, ou mesmo deprimente, e difícil de tratar, que é preciso tornar interessante. Daí a tendência que se observa por toda parte, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, a sacrificar cada vez mais o editorialista e o repórter-investigador em favor do animador-comunicador, a informação, análise, entrevista aprofundada, discussão de conhecedores ou reportagem em favor do puro divertimento e, em particular das tagarelices insignificantes dos talk shows entre interlocutores habituais e intercambiáveis (...)."
   


Pierre Bourdieu

       
 

   
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