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Bourdieu, sociólogo francês, morre aos 71 anos
PARIS - O sociólogo e defensor do movimento antiglobalização
Pierre Bourdieu morreu aos 71 anos na França. O jornal "Le
Monde" disse em sua edição desta quinta-feira que Bourdieu
morreu de câncer no hospital Saint-Antoine, em Paris, na quarta.
O primeiro-ministro francês, Lionel Jospin, afirmou em uma mensagem
de condolências que Bourdieu era um "mestre da sociologia contemporânea
e uma grande figura na vida intelectual de nosso país".
Catedrático de sociologia do Colégio de França,
Pierre Bourdieu era considerado como um dos intelectuais mais influentes
de sua época. Tornou-se conhecido já em 1964, ao publicar
junto com Jean-Claude Passeron "Les Héritiers" ("Os Herdeiros"),
obra que, quatro anos antes de maio de 68, fazia uma crítica
fundamental ao ensino superior francês.
Teve depois um verdadeiro êxito de público com "La Misère
du monde" (A Miséria do mundo", 1993), uma pesquisa sobre o
sofrimento social. Em 1996, fundou a associação Liber/Raisons
d'Agir (Liber/Razões de Agir), editora de livros militantes
de denúncia do neoliberalismo.
Entre suas obras, se destacam "La Distinction" ("A Distinção",
1979), "Ce que parler veut dire" ("O que falar significa", 1982),
"La Noblesse d'Eteat" ("A nobreza de Estado", 1989, "Les règles
de l'Art" ("As regras da Arte", 1992, Comapanhia das Letras), "A economia
das trocas simbólicas" (Ed. Perspectiva), "Sur la télevision"
("Sobre a televisão", 1997) e "La Domination masculine" ("A
Dominação masculina", 1998).
Crítico contundente da sociedade capitalista, Bourdieu começou
sua carreira acadêmica na Universidade Algiers, em 1958, quando
rebeldes argelinos lutavam pela independência do império
colonial francês. Bourdieu é visto por muitos como alguém
que deu novos rumos ao estudo da sociologia desde os anos 60.
Seus trabalhos abrangeram um vasto campo de conhecimento nas
áreas da cultura, política, educaçãao,
mídia e literatura. Além disso, manteve-se ligado à
atividade política e ao apoio às classes trabalhadoras,
o que o tornou um intelectual de referência para a esquerda.
Pierre
Bourdieu: 'Não se faz revolução com Internet'.
Agradecimentos:
Consulado Geral da França e Marie Depalle.
Pierre Bourdieu, sociólogo, é um dos intelectuais franceses
de maior projeção internacional. Ultimamente ele tem
buscado consertar os vasos quebrados pelos economistas e pelos novos
ventos da globalização e fornecer os óculos da
sociologia para aqueles que desejam ver o que a mídia não
revela.
Em 1995, participou intensamente das greves que paralisaram a França
em nome da preservação das conquistas sociais ameaçadas
pelo neoliberalismo. Desferiu críticas contundentes aos profissionais
da mídia em seu best-seller "Sobre a televisão'' (Ed.
Jorge Zahar).
Reeditava assim a tradição do intelectual público,
na melhor linhagem de Emile Zola diante do Caso Dreyfus, no final
do século passado, para mostrar que os franceses muitas vezes
preferem a desordem à injustiça.
Toda a obra de Bourdieu busca responder à seguinte questão:
Como funciona a dominação dos dominadores sobre os dominados?
Por que ela se reproduz e é vista muitas vezes como legítima
e natural pelos dominados?,Para chegar a uma resposta, Bourdieu ao
longo de 40 anos vêm observando populações de
todos os tipos, desde os camponeses argelinos até patrões,
jornalistas e operários. Busca desmontar os mecanismos da dominação.
Suas impressões e teorias são caixas de ferramenta para
novos movimentos sociais que ganham corpo na Europa diante das conseqüências
negativas da globalização. ,Professor titular da cadeira
de sociologia do College de France e diretor da Escola de Altos Estudos
em Ciências Sociais, Bourdieu concedeu uma entrevista exclusiva
à Globo.com em seu escritório em Paris. Clique abaixo
para ler.
Pierre
Bourdieu deixa um grande legado ao estudiosos da teoria da arte e
da cultura.
Bianca Kleinpaul, 24/01/2002, 16h13m, GloboNews.com.
Pierre Bourdieu
Mais que um defensor do movimento antiglobalização,
Pierre Bourdieu era uma crítico polêmico e influenciador
da teoria da arte. O sociólogo francês, que faleceu aos
71 anos nesta quarta-feira em Paris, de problemas decorrentes de câncer
(segundo foi divulgado na imprensa francesa) era catedrático
de sociologia do Colégio de França e considerado um
dos intelectuais mais influentes do século. Tornou-se conhecido
já em 1964, ao publicar junto com Jean-Claude Passeron 'Les
Héritiers' ('Os herdeiros'), obra que, quatro anos antes de
maio de 68, fazia uma crítica fundamental ao ensino superior
francês. Bourdieu cultivava a polêmica como instrumento
de intervenção social e, nos últimos tempos,
atingia os contentes do tempo de consenso e tentava recuperar o sentido
do intelectual combativo.
- O maior legado que ele deixa é a crítica da arte como
religião de homens niilistas, do burguês. Bourdieu era
contra a arte na mão de grupos economicamente favorecidos que
faziam dela um arremedo de espírito para si próprios
e assim, se tornavam especiais - conta o filósofo e professor
da Escola de Comunicação da UFRJ, Henrique Antoun. -
Bourdieu era um crítico ácido e causava reações,
sobretudo nas esferas da teoria onde ele atuava.
O pensador francês por muitas vezes foi criticado por seu autoritarismo
ou narcisismo mas, por outro lado, desqualificar sua atuação
equivale a não reconhecer sua independência no cenário
intelectual francês contemporâneo. Dos poucos cientistas
sociais franceses a sobreviver à onda estruturalista e pós-estruturalista,
ele manteve o sentimento do mundo ao longo de toda a sua obra atual,
que busca decifrar os significados das relações sociais
de exploração e dominação - desde seu
primeiro texto sobre a sociedade argelina, ainda colonizada pela França,
e de sua primeira obra de influência no pensamento social ('Os
herdeiros', sobre os estudantes, em colaboração com
Jean-Claude Passeron) até o 'Sobre a televisão' (1993,
Ed. Zahar).
Capa de 'Sobre a televisão'
Não é necessário nenhum conhecimento sociológico
ou familiaridade com a linguagem acadêmica para encontrar em
seus livros material fértil sobre a humanidade. Em 'A miséria
do mundo', Bourdieu se compôs de depoimentos, cheios de humanidade
e sofrimento, de homens e mulheres a propósito de sua existência
e de sua dificuldade de viver. São 'pequenas novelas', como
escreveu Bourdieu, e podem ser lidas ao acaso, sem preocupação
com os pressupostos metodológicos que orientaram as entrevistas.
Mendigos, zeladores de prédios, operários, comerciantes,
donas de casa e estudantes contam suas misérias cotidianas.
- Como pensador e escritor ele influenciou muito nas áreas
de pensamento sociológico ligado à teoria da arte e
da cultura, principalmente nos anos 80, quando ele foi bastante discutido
- completa Antoun.
Foi essa década, seu período mais fértil quando
se destacaram as obras 'La Distinction' ('A Distinção',
1979), 'Ce que parler veut dire' ('O que falar significa', 1982) e
a 'La Noblesse d'Etat' ('A nobreza de Estado', 1989).
No Brasil, foram poucas obras traduzidas, com destaque para 'A regra
da arte' (Companhia das Lestras, 1992), 'A economia das trocas simbólicas'
(Editora Perspectiva), 'Sobre a televisão', (Editora Zahar,
1997), 'Contrafogos (1998)' e 'Contrafogos 2' (2001), ambas também
da Editora Zahar. A editora Relume-Dumará lançará
o último livro publicado na França, 'Sociologia reflexiva',
ainda este ano.
Foi em 'A economia das trocas simbólicas' e em 'Sobre a televisão'
que Bourdieu chamou a atenção dos estudiosos da teoria
da cultura no Brasil. Neste último livro, o sociólogo
reconhece a importância dos interesses econômicos particulares
das grandes empresas que possuem os canais e as redes de TV, mas adverte
para a necessidade de serem considerados os limites de um 'materialismo
curto, associado à tradição marxista', que procura
reduzir todos os complexos problemas do autoritarismo existente no
funcionamento da mídia ao comando dos capitalistas proprietários.
O sociólogo francês dá exemplos extraídos
da televisão francesa e esclarece que não tem nada contra
a livre concorrência, porém faz a ressalva no livro:
'nas atuais condições, a concorrência entre as
grandes empresas jornalísticas está condicionada pela
busca dos mesmos grandes anunciantes, pela adoção dos
mesmos critérios pautados pelas pesquisas de opinião,
de modo que os produtos que elas oferecem estão tendendo a
ficar muito parecidos uns com os outros'.
vMas
seus trabalhos abrangeram um vasto campo de conhecimento nas áreas
da política, educação, mídia e literatura.
Além disso, manteve-se ligado à atividade política
e ao apoio às classes trabalhadoras, o que o tornou um intelectual
de referência para a esquerda.
Trecho
do posfácio do livro 'Sobre a televisão', de Pierre
Bourdieu.
Pierre
Bourdieu, extraído de "Sobre a televisão", Jorge Zahar
Editor, 1997, p.133
"Em um universo dominado pelo temor de ser entediante e pela preocupação
de divertir a qualquer preço, a política está
condenada a aparecer como um assunto ingrato, que se exclui tanto
quanto possível dos horários de grande audiência,
um espetáculo pouco excitante, ou mesmo deprimente, e difícil
de tratar, que é preciso tornar interessante. Daí a
tendência que se observa por toda parte, tanto nos Estados Unidos
quanto na Europa, a sacrificar cada vez mais o editorialista e o repórter-investigador
em favor do animador-comunicador, a informação, análise,
entrevista aprofundada, discussão de conhecedores ou reportagem
em favor do puro divertimento e, em particular das tagarelices insignificantes
dos talk shows entre interlocutores habituais e intercambiáveis
(...)."
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